quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Vigésimo movimento - Caraíba prepara a festa da primavera

Animado pela chamada para o trabalhar na mudança da Rua Mem de Sá para Rua dos Caraíbas, Jacaré foi a internete e a busca de imagens e textos por Caraíbas trazem belas praias do Caribe.

Isso prova que a busca das Terras sem mal era a bsuca da verdade pois aquela natureza é um paraíso.

Mesmo sendo para o paraíso, Jacaré terá fazer as necessárias consultas para ver se está autorizado a entrar na justa campanha e assim aguarda manifestações de seus leitores.

Abaixo, uma dança de Caraíba para quem quiser pegar uma carona na felicidade:


Até dia dezoito, o da festa da primavera, Jacaré estará coletando argumentos e opiniões para decidir sobre a campanha da troca do nome da rua do esmagador para Caraíbas.



No meio do caminho
Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Décimo movimento - a antropafagia preparando a festa da primavera

"Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Samba - Di Cavalcanti
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

Tupi, or not tupi that is the question.

...

Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem...

A alegria é a prova dos nove...

Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama."

Dos modernistas, Anita Malfatti enfeita o Jacaré

Antes da campanha Caraíba, Jacaré foi embora para Pasargada porque lá, ele é amigo do Rei

domingo, 22 de agosto de 2010

Décimo não se sabe qual movimento da festa com lábios de coral



Jacaré recebe nesse sábado para domingo o amigo Heitor Villa Lobos, admirador de Cartola, para ouvir e ouvir e depois, ouvir assim de ouvido de ou... na voz de Bidu Sayão

Bachianas Brasileiras No. 5
Heitor Vila Lobos

Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente.
Sobre o espaço, sonhadora e bela!
Surge no infinito a lua docemente,
Enfeitando a tarde, qual meiga donzela
Que se apresta e a linda sonhadoramente,
Em anseios d'alma para ficar bela
Grita ao céu e a terra toda a Natureza!
Cala a passarada aos seus tristes queixumes
E reflete o mar toda a Sua riqueza...
Suave a luz da lua desperta agora
A cruel saudade que ri e chora!
Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente
Sobre o espaço, sonhadora e bela!



de codinome beija flor
beija beija-me, deixe seu rosto coladinho ao meu que eu dou a vida por um beijo seu com Ciro Monteiro e Zeca Pagodinho e o Waguinho ainda disse que tem rolinha em Vila Isabel

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Décimo quarto movimento - preparando a primavera da festa

Baden Powell e Pixinguinha e nada mais para essa sexta
foto obtida em videolife

Deixa
Baden Powell


Deixa
Fale quem quiser falar, meu bem
Deixa
Deixe o coração falar também
Porque ele tem razão demais quando se queixa
Então a gente deixa, deixa, deixa, deixa
Ninguém vive mais do que uma vez
Deixa
Diz que sim prá não dizer talvez
Deixa
A Paixão também existe
Deixa
Não me deixe ficar triste

Depois da sexta vem a sesta

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Décimo movimento - preparando a festa da primavera

O acaso fez com que Pixinguinha, caminhando pelas calçadas de Vila Isabel, encontrasse Martinho da Vila na intercontextualidade do Gavião Calçudo e o Mar

Quem tivé muié bunita, traga presa na corrente ou esconde do gavião

e como cantou Tim Maia: avise ao formigueiro, vem aí tamanduá

Como existencialistamente Simone de Beauvoir disse que o acaso sempre tem razão, então o encontro foi verdade


Gavião Calçudo
Pixinguinha

Chorei
Porque
Fiquei
Sem meu amô
O gavião marvado bateu asa
Foi com ela e me deixô

Quem tivê muié bunita
Esconde do gavião
Ele tem unha cumprida
Deixa os maridu na mão
Mas viva quem é sorteiro!
Num tem amô nem paixão
Mas ocês que são casadu
Cuidado com o gavião

Chorei. . .

Us curpado disso tudo
É us maridu d`agora
As muié anda na rua
Cum as canela di fora
Gavião tomando cheiro
Vem decendu sem demora
Pega a muié pelo bico
Bati asa e vai simbora

Chorei porque fiquei sem meu amor
O gavião malvado bateu asas
Foi com ela e me deixou

O culpado disso tudo
É o marido de agora
A mulher sai perfumada
E com a barriguinha de fora
Gavião sentindo o cheiro
Vai chegando sem demora
Bota os olhos no umbigo
Bate asas, leva embora


Quem é do mar não enjoa
Martinho da Vila

Quem é do mar não enjoa, não enjoa
Chuva fininha é garoa, é garoa
Homem que é homem não chora, não, não chora
Quando a mulher vai embora, vai embora

Quem quiser saber meu nome
Não precisa perguntar
Sou Martinho lá da Vila
Partideiro devagar

Quem quiser falar comigo
Não precisa procurar
Vá aonde tiver samba
Que eu devo estar por lá

Eu cheguei no samba agora
Mas aqui eu vou ficar
Pois quem é mesmo do samba
Vai até o sol raiar

O sereno ta caindo
Ta caindo devagar
Vai cair chuva miúda
E o samba não vai parar

Serenou lá na Mangueira
Serenou lá na Portela
Serenou em Madureira
Serenou lá na favela
Serenou lá no Salgueiro
Serenou lá no Capela
Serenou na minha casa
Serenou na casa dela

Quem tiver mulher bonita
Traga presa na corrente
Eu também já tive a minha
Mas perdi num samba quente
A menina foi embora
Mas um samba vou cantar
Pois está mesmo na hora
De ter outra em seu lugar

Quem é da Vila conversa com as maritcas e, pedindo, elas beijam flores

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sétimo movimento, preparando a festa da primavera

É hora de Jacaré organizar o movimento pois na sequência pulou o sétimo, nono, décimo, décimo primeiro e décimo quarto. Ter ido direto do oitavo para o décimo segundo ficou claro que era para o sincronismo com a sexta treze mas os outros saltos parecem não ter explicação. A partir de agora haverá mais controle na sequência, afinal de contas os aviões estão sobre nossas cabeças.

E como Jacaré é de Vila Isabel, passando na feira de terça na Jorge Rudge, o encontro foi com Jamelão - o intérprete maior da Estação Primeira da Mangueira desde o tempo da construção da Torre de Babel, na Babilônia.


Torre de babel
Lupicínio Rodrigues

Quando nos conhecemos
numa festa que estivemos
nos gostamos e juramos
um ao outro ser fiel

Depois continuando
nos querendo nos gostando
nosso amor foi aumentando
qual a torre de babel

E a construção foi indo
foi crescendo foi subindo
lá no céu quase atingindo
aos domínios do senhor

E agora se aproximando o nosso
maior momento
este desentendimento
quer parar o nosso amor

Mas eu não acredito isso não há de acontecer
porque eu continuo lhe adorando
e hei de arranjar um meio de lhe convencer
que volte meu amor seu bem está chamando

Por um capricho seu não há de ser
que essa amizade vá ter esse desfecho tão cruel

Pieter Brueghel, o Velho e u sua pintura a óleo Torre de Babel (1563)


É, Babilônia é o morro onde o filme Orfeu do Carnaval, a partir da obra de Vinícius de Moraes, foi ambientado e, como ontem o poetinha foi promivido a Embaixador, Jacaré traz Luiz Bonfá e Antônio Maria para a homenagem com Manhã de Carnaval, da trilha sonora.

Manhã, tão bonita manhã
Na vida, uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia
Em que virás

Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus

Canta o meu coração
Alegria voltou
Tão feliz a manhã
Deste amor

Olhando bem a foto, ve-se flores que crescerão até a primavera.
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domingo, 15 de agosto de 2010

Dia de rosa - décimo quinto movimento, preparando a primavera

Hoje, quinze de agosto, é dia de rosa


e para saudar a rosa oiçam:
Rancho das flores,de uma melodia de Bach, o sacana do Vinícius fez uma letra cantada por Fagner e pelo Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro

Entre as prendas com que a natureza
Alegrou este mundo onde há tanta tristeza
A beleza das flores realça em primeiro lugar
É um milagre do aroma florido
Mais lindo que todas as graças do céu
E até mesmo do mar
Olhem bem para a rosa
Não há mais formosa
É flor dos amantes
É rosa-mulher
Que em perfume e em nobreza
Vem antes do cravo
E do lírio e da Hortência
E da dália e do bom crisântemo
E até mesmo do puro e gentil malmequer
E reparem no cravo o escravo da rosa
Que é flor mais cheirosa
De enfeite sutil
E no lírio que causa o delírio da rosa
O martírio da alma da rosa
Que é a flor mais vaidosa e mais prosa
Entre as flores do nosso Brasil
Abram alas pra dália garbosa
Da cor mais vistosa
Do grande jardim da existência das flores
Tão cheias de cores gentis
E também para a Hortência inocente
A flor mais contente
No azul do seu corpo macio e feliz
Satisfeita da vida
Vem a margarida
Que é a flor preferida dos que tem paixão
E agora é a vez da papoula vermelha
A que dá tanto mel pras abelhas
E alegra este mundo tão triste
No amor que é o meu coração
E agora que temos o bom crisântemo
Seu nome cantemos em verso e em prosa
Porém que não tem a beleza da rosa
Que uma rosa não é só uma flor
Uma rosa é uma rosa, é uma rosa
É a mulher rescendendo de amor

na calada da manhã, fria na Vila Isabel, Cartola veio se chegando, assim, se o dia de rosa então verde que te quero rosa

Clementina também homenageada é nossa Rosa de Ouro foto da página Vermute com amedoim
é p'ra cantar com Paulinho da Viola, Nelson Saragento, Jair do Cavaquinho, Anescar do Salgueiro e Elton Medeiros

Rosa de Ouro
Elton Medeiros - Paulinho da Viola - Hermínio Bello de Carvalho

Ela tem uma rosa de ouro nos cabelos
E outras mais tão graciosas;
Ela tem outras rosas que são os meus desvelos.
E seu olhar faz de mim um cravo ciumento
Em seu jardim de rosas.
Rosa de ouro, que tesouro
Ter essa rosa plantada em meu peito!
Rosa de ouro, que tesouro
Ter essa rosa plantada no fundo do peito!

Essa rosa de ouro que eu trago nos cabelos,
E outras mais tão graciosas,
Floresceu no lindo jardim dos meus desvelos;
Brotou em meu coração e cravos ciumentos
Querem colher - o que? - a rosa.
Rosa de ouro, singela,
Quero ofertar esta rosa tão bela!
Rosa de ouro, singela,
Quero ofertar a você esta rosa tão bela!
Quero ofertar a você esta rosa tão bela!

Letra obtida no Samba Falado

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Décimo terceiro movimento : Preparando a primavera com antropofagia

Jacaré saúda a sexta feira 13 e pede passagem

A literatura, desde o século XVIII, denuncia o escravismo no Brasil.Robinson Crusoe, personagem fictício de Daniel Defoe (1660-1731), tendo vivido aqui quase quatro anos... veio a receber uma proposta secreta de armar um navio para ir até a Guiné... aprisionar escravos... comprando e trocando por bugigangas, negros em grande quantidade para o trabalho no Brasil. Sua fatídica viagem redundou em naufrágio e estadia durante mais de 27 anos na ilha parentemente deserta. ( Artigo de Fernando Nogueira)

No final dessa história acima, Robson Crusoé, medroso de doer, explora
mais uma vez a sagacidade do Ìndio Sexta Feira, reconstrói seu barco e volta ao Brasil para continuar a exploração.

Jacaré, se insurge contra essa história e convida para a escrita de uma nova onde Sexta Feira Treze come o Robinson Crusoé assado e temperado numa receita de Darcy Ribeiro. com abóbora, Gravura de Theodore de Bry Darcy Ribeiro, antropologista, por Luiz Garrido


A festa rola carnaval a fora cantando Índio quer apito, Haroldo Lobo e Milton de Oliveira com Bloco Quizomba na Lapa

Ê ê ê ê ê índio quer apito
Se não der pau vai comer

Lá no bananal mulher de branco
Levou pra pra índio colar esquisito
Índio viu presente mais bonito
Eu não quer colar
Índio quer apito

Da lapa para a poesia de Quintana oleando Tarsila na antropofagia do Abapuru - qua já foi tema do Bloco

... às treze estrelas da utopia

DAS UTOPIAS
Mário Quintana
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Décimo segundo movimento :Preparando a poeisa com sonhos da primavera

Assim como Vinícius de Moraes - há a perspectiva do domingo porque hoje é sábado,

há a perspectiva da sexta treze de agosto porque hoje é quinta de agosto, doze

Então, assim será feito pois a festa talvez já tenha nome:

Nossa vistante poética, Leila Sales, trouxe ao Jacaré essa sugestão de sonhos de primavera

"Mario Quintana, registrou em poema a fuga de Tolstói de casa aos 80 anos. Finda dizendo que nem todos conseguem realizar os sonhos da infância. Sendo assim, quem sabe não seja um bom começo realizarmos os nossos sonhos de primavera.

Poema da Gare de Astopovo
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos os que realizam os velhos sonhos da infância!"

Para ler todo o poema vá até ali na Casa do Bruxo pois ainda de Quintana para Tolstoi:

Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...


E já que Jacaré foi à Rússia, trouxe uma carta, não umas cartas, e, passando em Portugal, trouxe a flor onde felizmente há luar

A carta
Marina Tsvetaeva

Assim não se esperam cartas.
Assim se espera - a carta.
Pedaço de papel
Com uma borda
De cola. Dentro - uma palavra
Apenas. Isto é tudo.

Assim não se espera o bem.
Assim se espera - o fim:
Salva de soldados,
No peito - três quartos
De chumbo. Céu vermelho.
E só. Isto é tudo.

Felicidade? E a idade?
A flor - floriu.
Quadrado do pátio:
Bocas de fuzil.

(Quadrado da carta:
Tinta, tanto!)
Para o sono da morte
Viver é bastante.

Quadrado da carta.

(Trad. Augusto de Campos)

P'ra fechar, é só tchaikoviar com a Valsa das Flores ou curtir os Ochi chyornie com olhos negros na interpretação de Mário Colosimo

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Oitavo movimento - preparando a primavera com poesia

quis mudar tudo
mudei tudo
agorapóstudo
extudo
mudo

Augusto de Campos

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sexto movimento - preparando a primavera

Na Odisséia da liberação da rua para a festa de 18 de stembro, Sônia Souza nos informa que após passar por várias ruas de Dublin, o processo está andando bem.
Cansada de caminhadas e despachos, nossa Diretora jacarense foi fazer uma reza

Jacaré parabeniza a Sônia, suspende temporariamente os rins fritos na refeição matinal do João Guerreiro:Receita em Cozinha com a Anna - de Lisboa


Agora que os papéis já correram, corramos nós para organizar a festa.

Assim será a partir de amanhã. Quem viver verá!
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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A bomba em Nagasaki e a rosa de Hiroshyma

Jacaré hoje não canta: chora com poeisa, imagens e sons
da triste lembranca que a humanidade tem da data de 9 de agosto de 1945
65º aniversário do bombardeio atômico da cidade por parte dos Estados Unidos.
para não esquecer e não permitir jamais: Nagasaki Archive


A rosa de Hiroshyma
Vinícius de Moraes


Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada

Depois de ouvirmos a interpretação de Ney Matogrosso fica a obra de arte

A obra acima é de autoria de Francisco Rangel

A amiga,lá de Petrolina, contribui com uma poesia maravilhosa. Obrigado, Elisabet

Sexta-poesia na esteira de um jacaré atormentado

EXPLOSÕES
Murilo Mendes

A ode explode. O bode explode.
O Etna explode. O erre explode.
A mina explode. A mitra explode.
Tudo agora e amanhã explode.
Exceto a Bomba: o homem não pode.
O homem não pode. O homem não pode. O homem não pode

O homem pode:
Soltar a vida. Fuzilar a Bomba. Reinventar a ode.

Sobre Murilo Mendes, leia a revista ZUNÀI
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O amigo Carlinhos Cecconi, de São Paulo, vem com Drummond nos convidar para não esquecer e não permitir jamais: Nagasaki Archive


Estima-se que 74 mil pessoas morreram com a Bomba de Nagasaki, há 65 anos, nesse mesmo 9 de agosto, três dias depois da Bomba de Hiroshima. A de Hiroshima foi pior: estima-se em 140 mil pessoas.

A BOMBA
Carlos Drummond de Andrade

A bomba
é uma flor de pânico apavorando os floricultores
A bomba
é o produto quintessente de um laboratório falido
A bomba
é estúpida é ferotriste é cheia de rocamboles
A bomba
é grotesca de tão metuenda e coça a perna
A bomba
dorme no domingo até que os morcegos esvoacem
A bomba
não tem preço não tem lugar não tem domicílio
A bomba
amanhã promete ser melhorzinha mas esquece
A bomba
não está no fundo do cofre, está principalmente onde não está
A bomba
mente e sorri sem dente
A bomba
vai a todas as conferências e senta-se de todos os lados
A bomba
é redonda que nem mesa redonda, e quadrada
A bomba
tem horas que sente falta de outra para cruzar
A bomba
multiplica-se em ações ao portador e portadores sem ação
A bomba
chora nas noites de chuva, enrodilha-se nas chaminés
A bomba
faz week-end na Semana Santa
A bomba
tem 50 megatons de algidez por 85 de ignomínia
A bomba
industrializou as térmites convertendo-as em balísticos
interplanetários
A bomba
sofre de hérnia estranguladora, de amnésia, de mononucleose,
de verborréia
A bomba
não é séria, é conspicuamente tediosa
A bomba
envenena as crianças antes que comece a nascer
A bomba
continua a envenená-las no curso da vida
A bomba
respeita os poderes espirituais, os temporais e os tais
A bomba
pula de um lado para outro gritando: eu sou a bomba
A bomba
é um cisco no olho da vida, e não sai
A bomba
é uma inflamação no ventre da primavera
A bomba
tem a seu serviço música estereofônica e mil valetes de ouro,
cobalto e ferro além da comparsaria
A bomba
tem supermercado circo biblioteca esquadrilha de mísseis, etc.
A bomba
não admite que ninguém acorde sem motivo grave
A bomba
quer é manter acordados nervosos e sãos, atletas e paralíticos
A bomba
mata só de pensarem que vem aí para matar
A bomba
dobra todas as línguas à sua turva sintaxe
A bomba
saboreia a morte com marshmallow
A bomba
arrota impostura e prosopéia política
A bomba
cria leopardos no quintal, eventualmente no living
A bomba
é podre
A bomba
gostaria de ter remorso para justificar-se mas isso lhe é vedado
A bomba
pediu ao Diabo que a batizasse e a Deus que lhe validasse o batismo
A bomba
declare-se balança de justiça arca de amor arcanjo de fraternidade
A bomba
tem um clube fechadíssimo
A bomba
pondera com olho neocrítico o Prêmio Nobel
A bomba
é russamenricanenglish mas agradam-lhe eflúvios de Paris
A bomba
oferece de bandeja de urânio puro, a título de bonificação, átomos
de paz
A bomba
não terá trabalho com as artes visuais, concretas ou tachistas
A bomba
desenha sinais de trânsito ultreletrônicos para proteger
velhos e criancinhas
A bomba
não admite que ninguém se dê ao luxo de morrer de câncer
A bomba
é câncer
A bomba
vai à Lua, assovia e volta
A bomba
reduz neutros e neutrinos, e abana-se com o leque da reação
em cadeia
A bomba
está abusando da glória de ser bomba
A bomba
não sabe quando, onde e porque vai explodir, mas preliba
o instante inefável
A bomba
fede
A bomba
é vigiada por sentinelas pávidas em torreões de cartolina
A bomba
com ser uma besta confusa dá tempo ao homem para que se salve
A bomba
não destruirá a vida
O homem
(tenho esperança) liquidará a bomba.
--
beijos n'alma!
na luta e na luz!

Carlinhos Cecconi
olacarlinhos@terra.com.br
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Tânia Cabral, do Tocantins, nos traz Fernando Pessoa:

"A Guerra"
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

A guerra que aflige com os seus esquadrões o Mundo,
É o tipo perfeito do erro da filosofia.

A guerra, como todo humano, quer alterar.
Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito
E alterar depressa.

Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do Universo por nós.
Tendo por conseqüência a morte, a guerra prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer alterar.

Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs.

Tudo é orgulho e inconsciência.
Tudo é querer mexer-se, fazer cousas, deixar rasto.
Para o coração e o comandante dos esquadrões
Regressa aos bocados o universo exterior.

A química direta da Natureza
Não deixa lugar vago para o pensamento.

A humanidade é uma revolta de escravos.
A humanidade é um governo usurpado pelo povo.
Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito.

Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural!
Paz a todas as cousas pré-humanas, mesmo no homem!
Paz à essência inteiramente exterior do Universo!

Alberto Caeiro

Uma excelente semana para todos!

Tânia

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João Guerreiro, diretor do Jacaré, mostra que dia nove aconteceu de novo em 1997 com a perda pela AIDS do querido Betinho:

Uma homenagem na voz/interpretação de Elis:


Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos
A lua, tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
E nuvens lá no mata borrão do céu
Chupavam manchas torturadas, que sufoco
Louco, o bêbado com chapéu coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil, meu Brasil
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora a nossa pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarices
No solo do Brasil
Mas sei que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente a esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar
Azar, a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar

João Bosco/Aldir Blanc

sábado, 7 de agosto de 2010

Quinto movimento - preparando a primavera com poesia

Enquanto muçulmanos preparam o Ramadã, Jacaré vai por aí com sua viola num sábado de agosto de olho na festa da primavera, a busca de um título e de uma homenagem a fazer.

Do Ramadã, o sítio do Terra nos brindou com essa foto de todas as cores:

A viola, pegamos com Paulinho da Viola nas "coisas do mundo, minha nega" Foto do blogue Arco Iris Gerais
Hoje eu vim minha nega
Como venho quando posso
Na boca as mesmas palavras
No peito o mesmo remorso
Nas mãos a mesma viola onde eu gravei o teu nome (bis)
Venho do samba há tempo, nega
Venho parando por ai
Primeiro achei zé fuleiro que me falou de doença
Que a sorte nunca lhe chega
Que está sem amor e sem dinheiro
Perguntou se não dispunha de algum que pudesse dar
Puxei então da viola
Cantei um samba pra ele
Foi um samba sincopado
Que zombou de seu azar

Hoje eu vim, minha nega
Andar contigo no espaço
Tentar fazer em teus braços um samba puro de amor
Sem melodia ou palavra pra não perder o valor (bis)

Depois encontrei seu bento, nega
Que bebeu a noite inteira
Estirou-se na calçada
Sem ter vontade qualquer
Esqueceu do compromisso que assumiu com a mulher
Não chegar de madrugada
E não beber mais cachaça
Ela fez até promessa
Pagou e se arrependeu
Cantei um samba pra ele que sorriu e adormeceu

Hoje eu vim, minha nega
Querendo aquele sorriso
Que tu entregas pro céu
Quando eu te aperto em meus braços
Guarda bem minha viola, meu amor e meu cansaço (bis)

Por fim achei um corpo, nega
Iluminado ao redor
Disseram que foi bobagem
Um queria ser melhor
Não foi amor nem dinheiro a causa da discussão
Foi apenas um pandeiro
Que depois ficou no chão
Não tirei minha viola
Parei, olhei, fui-me embora
Ninguem compreenderia um samba naquela hora

Hoje eu vim, minha nega
Sem saber nada da vida
Querendo aprender contigo a forma de se viver
As coisas estão no mundo só que eu preciso aprender (bis)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Quarto movimento - preparando a primavera com poesia

Andaram os papéis, Sônia Souza já os leva como o caderninho de Erasmo Carlos e João comeu pela manhã mais uma porção de rins de carneiro fritos.

Esmerando-se na produção de erros, Jacaré informou que a autora da poesia Alma Cigana era portuguesa, mas, com um Namastê, Karla nos informou que é brasileira e mora no Rio.

A poesia de hoje, esperando a festa de 18 de setembro - Primavera

Nada tem valor
Pierre Teilhard de Chardin

Nada tem valor
exceto a parte de você que está nos outros
e a parte dos outros que está em você.

Lá em cima
bem no alto
tudo é uma coisa só.

Flores e samba para o final de semana
Imagem da página do Sovaco de Cobra

A flor e o espinho
Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh'alma à sua
O sol não pode viver perto da lua
É no espelho que eu vejo a minha mágoa
É minha dor e os meus olhos rasos d'água
Eu na tua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em seu amor
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh'alma à sua
O sol não pode viver perto da lua

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Terceiro movimento - preparando a primavera com poesia

Os papéis da tramitação da festa não andaram ainda e os rins foram para frigideira pela manhã.

Hoje é o dia de lembrança de Carmen Miranda contando 55 anos de sua morte, assim, Jacaré corrige a informação falada ontem de que hoje seria a dia de nascimento. A festa fica pois para 9 de fevereiro e a homenagem é com a Pequena Notável com flores amarelas, as que eram de sua preferência:
Foto obtida na página Blog de marlyjacobino

e uma poeisa cigana, de Potugal, para esperar a festa da primavera com uma dança também cigana ao fundo

Alma cigana
Karla Bardanza

Minha alma é cigana,
não pode amar,
e ama...
Sente o futuro,
lê no escuro,
foge,pula muros...
Alma em luz,
seduz com olhar,
entende da sorte,
e do destino,
mas é só desatino...
Cigana de encantos,
magia e sortilégio,
privilégio é entender
as cartas,os corpos,
o desejo...
Beijo a vida,
sou atrevida,
sorrio,conquisto,
resisto,insisto...
Acredite se quiser...
Sou perfume,sou mulher...
Sou cigana,ninguém me engana...
Estenda sua mão,vejo...
Vejo o teu futuro...
Leio o teu coração...
Sou cigana,
é assim que o povo
chega e me chama...
Sou assim,sou prazer...
Agora diga:
quem é você?

Quem quiser ler e saber mais sobre Karla Barzana pode visitá-la em sua página

Ler mais em Luso Poema Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Preparando a primavera com poesia - segundo movimento

Hoje, 4 de agosto, Sônia Souza leva a documentação preliminar necessária, que obteve com João Guerreiro, para início dos trâmites da festa.

Note-se que João teve no caté da manhã rins fritos,

amanhã é aniversário de Carmen Miranda.

e no segundo movimento de poesia, a poetiza protuguesa Sophia de Melo Breyner Andersen:


O poema

Sophia de Mello Breyner Andersen

O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo

Mais poema de Sophia Breyner você encontra em no blog Blood Butterfly juntamente com a flor amarela aqui em baixo:

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Preparando a primavera com poesia - primeiro movimento

Jacaré prepara a festa de 18 de setembro, lendo poesia e cultivando flores.

O último sortilégio - Fernando Pessoa

"Já repeti o antigo encantamento,



E a grande Deusa aos olhos se negou.
Já repeti, nas pausas do amplo vento,
As orações cuja alma é um ser fecundo.
Nada me o abismo deu ou o céu mostrou.
Só o vento volta onde estou toda e só,
E tudo dorme no confuso mundo.

"Outrora meu condão fadava, as sarças
E a minha evocação do solo erguia
Presenças concentradas das que esparsas
Dormem nas formas naturais das coisas.
Outrora a minha voz acontecia.
Fadas e elfos, se eu chamasse, via.
E as folhas da floresta eram lustrosas.

"Minha varinha, com que da vontade
Falava às existências essenciais,
Já não conhece a minha realidade.
Já, se o círculo traço, não há nada.
Murmura o vento alheio extintos ais,
E ao luar que sobe além dos matagais
Não sou mais do que os bosques ou a estrada.

"Já me falece o dom com que me amavam.
Já me não torno a forma e o fim da vida
A quantos que, buscando-os, me buscavam.
Já, praia, o mar dos braços não me inunda.
Nem já me vejo ao sol saudado ergUida,
Ou, em êxtase mágico perdida,
Ao luar, à boca da caverna funda.

"Já as sacras potências infernais,
Que, dormentes sem deuses nem destino,
À substância das coisas são iguais,
Não ouvem minha voz ou os nomes seus.
A música partiu-se do meu hino.
Já meu furor astral não é divino
Nem meu corpo pensado é já um deus.

"E as longínquas deidades do atro poço,
Que tantas vezes, pálida, evoquei
Com a raiva de amar em alvoroço,
lnevocadas hoje ante mim estão.
Como, sem que as amasse, eu as chamei,
Agora, que não amo, as tenho, e sei
Que meu vendido ser consumirão.

"Tu, porém, Sol, cujo ouro me foi presa,
Tu, Lua, cuja prata converti,
Se já não podeis dar-me essa beleza
Que tantas vezes tive por querer,
Ao menos meu ser findo dividi
­Meu ser essencial se perca em si,
Só meu corpo sem mim fique alma e ser!

"Converta-me a minha última magia
Numa estátua de mim em corpo vivo!
Morra quem sou, mas quem me fiz e havia,
Anônima presença que se beija,
Carne do meu abstrato amor cativo,
Seja a morte de mim em que revivo;
E tal qual fui, não sendo nada, eu seja!"

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